Aureus

Com este blog pretendo mostrar os últimos acontecimentos científicos, de maneira a ficarmos à par do que pôde ser feito pelos científicos neste momento, e dos últimos descobrimentos, e ao mesmo tempo oferecer curiosidades, engraçadas ou simplesmente esquisitas, do âmbito da ciência. Isto sempre numa linguagem acessível para todos, sem grandes complicações.
Lembrem-se que eu escrevo a estrutura, mas a vida do blog, o movimento, são os vossos comentários. Façam-os. Qualquer coisa que queiram, fico à vossa disposição.

24 de julho de 2009

Tucano: O bico refrigerador



O bico do tucano, um "ar condicionado" da natureza


Os tucanos, como toda a gente sabe, possuem um bico grande, muito grande. Aliás, é, proporcionalmente, o maior bico de todas as aves, podendo atingir um terço do tamanho do animal todo.


Já se tinha investigado o motivo, a utilidade do bico. Poderia servir para atrair aos elementos do outro sexo, como alertas visuais, para descascar frutos...  


Uns investigadores, da Universidade Estadual de São Paulo, no Brasil, e da Universidade Brock, em St. Catharines, Ontário, no Canadá, descobriram o motivo real do tamanho do bico do tucano: Serve para manter a temperatura corporal.


Filmando tucanos com câmaras de infravermelhos (onde se pode "ver" a temperatura) descobriram que os tucanos podem variar a temperatura do seu bico entre 10º e 35º centígrados, graças à rede de vasos sanguíneos que percorre interiormente a grande superfície do bico. Ao aquecer o ambiente exterior, o bico demora poucos minutos em aquecer também. Ao arrefecer o exterior, também o bico arrefece, para não perder tanto calor, bastando para isso diminuir o fluxo sanguíneo nessa zona.


Assim, tal como as nossas glândulas sudoríparas, ou a língua dos cães, ou mais precisamente como as orelhas dos elefantes e dos coelhos, serve para perder calor quando é necessário.


E, agora, graças a este estudo, publicado em Science, sabemos que não só serve para estabilizar a temperatura corporal, como que o faz de uma maneira extremamente eficiente.


Esta noticia foi inicialmente lida em Hypescience, e pode ser ampliada também na BBC.

23 de julho de 2009

Nanotecnología ibérica

Maqueta do Laboratório Internacional de Nanotecnología em Braga


Foi inaugurado recentemente um novo laboratório internacional de nanotecnología, em Braga. Este centro, INL (pelas siglas em inglês), pretende ser um centro dinamizador do melhor que se faz na nanotecnología a nível mundial, incorporando 200 científicos de varias nacionalidades.


O INL responde a uma iniciativa ibérica, sendo que a Espanha e Portugal co-financiam o instituto, mas já indicaram que se encontram abertos a novas parcerias, assim como à incorporação de científicos de qualquer parte do mundo.


A importância do INL vem dada desde logo pela inauguração, que juntou em Braga ao Presidente, Rei, Primeiros Ministros e Ministros de Ciência dos 2 países.


É de facto destacável a iniciativa, de dois países que partilham uma deficiência crónica em tecnologia avançada, e que pensam que esse deve ser o caminho para o futuro. Ambos possuem poucas empresas com tecnologias de ponta, em ambos casos há algumas que fazem parte do que de melhor se faz no mundo nas suas áreas, mas continuam em ambos os casos a ser excepção num tecido empresarial geralmente menos evoluído do que seria desejável.


Ainda, esta iniciativa promove a cooperação mais estreita entre a Espanha e Portugal, o que faz todo o sentido sendo como são povos relativamente semelhantes entre eles, em relação ao resto da UE, tanto nos seus modelos produtivos como nas suas culturas e vivências, inclusivamente históricas.


O INL vai desenvolver projectos de investigação e desenvolvimento, fundamentalmente seguindo quatro grandes linhas: nanomedicina, meio ambiente e controlo alimentar, nanoelectrónica e nanoequipamento e maquinaria.


Esperemos que seja uma das muitas parcerias que se venham a desenvolver, para bem da península Ibérica.


Alguns dos muitos lugares onde se faz referência ao evento são: no site da UMIC (pt), em El País (es), em Cienciapt.net (pt) ou em EuropaPress.es (es)

22 de julho de 2009

Desertec: A electricidade vinda do Sara



Projecto Desertec: Amplie a imagem (clique) para ler as legendas


O Desertec é um projecto enorme de obtenção de energia solar no Sara para a União Europeia, o Médio Oriente e o Norte de África (EUMENA, das siglas em inglês).


Este é um projecto já aprovado, que conta com empresas como a Siemens ou o Deutsche Bank, e com um orçamento de 400 mil milhões de euros, o que faz com que muitos o acusem de megalómano e não realista.


O Desertec possui um site bastante explicativo do projecto, que recomendo, onde indicam, entre muitos outros dados, que os desertos do mundo recebem cada 6 horas mais energia solar do que a que a humanidade toda consome cada ano. Aliás, podem verificar na imagem inicial, obtida do site da Desertec, qual a superfície estimada de deserto necessária para obter a energia total utilizada pela humanidade, ou pelos Estados Unidos, ou pela EUMENA, entre outros.


Obviamente não podem ser feitas plantas tão grandes, nem estrategicamente seria aconselhável, mas dá uma ideia audaz do reservatório de energia que é o deserto.


A intenção é fazer muitas plantas solares distribuídas por várias zonas de vários países do deserto. O financiamento e a direcção seriam fundamentalmente europeias (alemãs principalmente), mas a distribuição de energia seria para todos os países do projecto, e a intenção é obter 15% da energia da EUMENA a partir do projecto Desertec em 2050.


Podem obter aqui o Livro Vermelho do projecto Desertec, em PDF em inglês. 

21 de julho de 2009

Libélulas migratórias: 15.000 Quilómetros de viagem

Pantala flavescens, a libélula que realiza a maior migração dos insectos


Foi encontrada a maior rota de migração de insectos conhecida até agora: Milhões de libélulas Pantala flavescens (também há representantes de outras espécies, mas quase todas são desta) migram desde o sul da Índia até África, passando pelas Maldivas e pelas Seychelles.


O biólogo Charles Anderson publicou informação sobre esta migração recentemente em Journal of Tropical Ecology, uma prestigiosa revista científica.


Segundo as suas investigações, estes insectos aproveitam os ventos dominantes na época imediatamente anterior ao monção (os habitantes das Maldivas interpretam a chegada das libélulas como o anúncio da iminência dos monções) para  iniciar uma grande migração procurando zonas húmidas onde se poderem reproduzir.


Durante a viagem chegam a atingir altitudes superiores aos 6 quilómetros (mais do que nenhuma outra espécie conhecida), e a viagem completa de ida e volta supõe 4 gerações de libélulas.


É extraordinário o facto de que, tendo havido registos anuais da aparição das libélulas nessas zonas, no entanto desconhecia-se e nunca se tinha estudado a sua procedência, porque não parecia credível uma viagem transoceânica dessa magnitude para as libélulas.


Noticia desenvolvida na BBC.



3 de julho de 2009

A planta mentirosa

Folha comida por larvas (esquerda) e outra variegada pela própria planta (direita)


Encontraram no Equador uma planta, Caladium steudneriifolium, que finge estar doente para enganar os seus predadores.


Os insectos cujas larvas comem as suas folhas preferem as folhas saudáveis e verdes para pôr os seus ovos, uma vez que as folhas variegadas (com aspecto de doentes, com manchas e riscos) devem ter menos nutrientes, porque já devem ter sido comidas por outras larvas(as manchas produzidas pelas larvas quando comem as folhas são muito parecidas a esta variegação).


Na teoria isto é mesmo assim. Na prática, esta planta simula a doença, apresentando variegação nas folhas, conseguindo assim não sofrer o ataque dos insectos.


Sigrid Liede-Schumann e os seus colegas Ulf Soltau e Stefan Dotterl, da Universidade de Bayreuth na Alemanha, estavam a investigar a vegetação nessa zona do Equador quando repararam que algumas Caladium steudneriifolium verdes viam-se muito atacadas pelos insectos, enquanto outras da mesma espécie, que apresentavam variegação, apenas estavam infectadas.


Fizeram experimentos para comprovar isto, como pintar algumas folhas simulando variegação, e, após 3 meses de estudo, chegaram a este surpreendente resultado: Apesar de que na teoria a variegação é desfavorável para a planta, uma vez que reduz a superfície disponível para fazer a fotossíntese, na realidade, o dano produzido pelos insectos nas folhas verdes é mais prejudicial ainda, sendo que portanto a variegação representa uma vantagem evolutiva nas zonas onde existam estes insectos.


Este descobrimento foi publicado no número de Março da revista Evolutionary Ecology.


Ver mais na BBC