Aureus

Com este blog pretendo mostrar os últimos acontecimentos científicos, de maneira a ficarmos à par do que pôde ser feito pelos científicos neste momento, e dos últimos descobrimentos, e ao mesmo tempo oferecer curiosidades, engraçadas ou simplesmente esquisitas, do âmbito da ciência. Isto sempre numa linguagem acessível para todos, sem grandes complicações.
Lembrem-se que eu escrevo a estrutura, mas a vida do blog, o movimento, são os vossos comentários. Façam-os. Qualquer coisa que queiram, fico à vossa disposição.

25 de janeiro de 2010

Staphylococcus aureus: Propagação de bactérias resistentes


Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA)


Um novo estudo, levado a cabo por Simon Harris, um filogenetista bacteriano do Instituto Wellcome Trust Sanger em Hinxton, Inglaterra, e seus colegas, e que foi publicado recentemente em Science, revela que o Staphylococcus aureus resistente à meticilina, ou MRSA pelas siglas em inglês, como é mais conhecido, muta muito mais rapidamente do que pensavam até agora.



Esta bactéria, habitual nas infecções hospitalares, consegue mudar pelo menos uma letra (nucleótido) no seu genoma cada seis semanas, e a maior parte deles nos genes envolvidos na resistência aos antibióticos. Esta taxa de mutação nestes genes é muito superior à que se poderia esperar de mutações ao acaso, e o que propõem é que há uma muito forte pressão selectiva nestas bactérias para desenvolver a sua resistência aos antibióticos.



Estes investigadores recolheram amostras da mesma estirpe em 63 hospitais à volta do mundo, e chegaram à conclusão de que todas elas tinham alguma letra do código genético alterada em relação às outras.


A técnica empregue, sequenciação completa dos seus genomas, pode ser utilizada para obter uma melhor compreensão de como é que se propagam as infecções. Por enquanto, já determinaram que esta estirpe provavelmente surgiu na Europa nos anos 60, e desde então extendeu-se, sendo actualmente a estirpe predominante de MRSA na Ásia, enquanto continua a ser uma das principais na Europa e já é muito comum também na América do Sul.


Neste último caso, América do Sul, comprovou-se também que as diferentes amostras estão muito relacionadas geneticamente, o que provavelmente indica que uma só variante de MRSA deve ter invadido recentemente o continente, expandindo-se rapidamente.


Os estudos filo-genéticos sobre estas bactérias devem contribuir com novos dados que permitam limitar a expansão de las infecciones, mesmo tendo em conta que esta linha de investigação ainda se encontra nos seus primórdios. Não é suposto que possa mudar o tratamento de doentes em concreto, mas sim que permita obter uma imagem completa das mutações que podem provocar uma epidemia, e esperam que assim seja possível tomar as medidas apropriadas para a evita-la.


Em tom humorístico, para os distraídos, e antes de ser acusado de alguma coisa, esclareço que o meu nome, Aureus, não provem de Staphylococcus aureus mas de Canis aureus.


Mais informação em Science News

5 comentários:

  1. Muito interessante, que seres altamente especializados são as bactérias

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  2. Prezado Aureus,

    Abordei um pouco sobre os desdobramentos possíveis nesse assunto em dois posts em meu blog:

    - http://blog.gilbertomirandajr.com.br/2007/11/alerta-seleo-artificial.html
    - http://blog.gilbertomirandajr.com.br/2009/05/o-saber-cientifico-e-gripe-suina.html

    Realmente vem a confirmar o potencial destrutivo do uso de anti-bactericidas de forma indiscriminada, e pior, do uso da vacinação em massa contra a gripe.

    Eu gostaria de comentar apenas, mas talvez seja apenas uma questão semântica, quando você diz "Esta taxa de mutação nestes genes é muito superior à que se poderia esperar de mutações ao acaso".

    Não é que você esteja errado ao falar assim. Mas analisemos essa frase. Se é "ao acaso" não podemos esperar, pois não temos qualquer controle ou conehcimento das causas para "esperar" alguma taxa específica de forma preditiva. A taxa de mutação dos genes do Staphylococcus aureus é superior às taxas médias históricas em ambiente controlado. E assim como não sabemos os motivos que levam às taxas históricas e suas variações, não sabemos os motivos das taxas maiores dele. Não é isso?

    Parece-me que há relação entre a taxa de reprodução e instabilidade ambiental, proporcionando maiores taxas de mutação na união dessas duas variáveis. Ao compararmos cepas de bactérias diferentes em ambientes semelhantes, precisamos saber a taxa de reprodução, pois quanto maior, mais variabilidade genética produz... Se não houver relação, podemos inferir que a taxa de mutação é própria da espécie e essa facilidade, com certeza, veio do predomínio de uma mutação que estabelecesse essa característica.

    É gozado que esse tipo de explicação, por exclusão, não tem capacidade preditiva. Ela explica o passado mas não nos dá controle preditivo, o que pode ate´não ser considerado científico no modelo falsificacionista.

    De qualquer forma, enquanto ainda não tivermos o poder preditivo atraves do controle das variáveis que causam essa taxa assustadora de mutação, é preciso repensar o papel da ciência na confecção de produtos ao mercado e o papel da medicida social no combate a endemias, pois poderemos estar decretando nosso próprio fim criando super-bactérias de poder incalculável de forma irresponsável e artificial.

    Grande abraço e parabéns pelo blog....

    Gilberto Miranda Jr.

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  3. Gilberto, agradeço os seus comentários. E concordo consigo na importância do controle de medicamentos para evitar tanto quanto possível a criação de super-bactérias.
    Só um pormenor: Quando eu dizia "Esta taxa de mutação nestes genes é muito superior à que se poderia esperar de mutações ao acaso", na parte de "estes genes" referia-me aos genes responsáveis pela resistência aos antibióticos, querendo indicar que especificamente estes genes tinham uma taxa de mutação bastante maior do que os outros genes da bactéria, não que a bactéria em si tinha uma taxa de mutação elevada (mesmo que tal seja também verdade se comparado com a média de bactérias semelhantes).

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  4. Ah perfeito, Aureus, entendi. Tanto a própria mutação da bactéria em si, quando dos seus genes relativos à resistência, possuem uma taxa de mutação superior à média histórica.

    Poderíamos concluir, então, na sua opinião, que o fato de a combatermos a deixa mais forte e com poder mutacional e destrutivo cada vez maior?

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  5. Como com todas as bactérias (e com muitos animais, mas as bactérias reproduzem-se mais depressa), ao matar-mos quase todas, excepto as que pela sua mutação resistem o nosso "veneno" (antibiótico neste caso), então estas últimas serão as que se vão reproduzir, e por tanto depois a maior parte delas vão ser das "resistentes".
    O problema é que também não podemos deixa-las avançar com a sua infecção e matar à pessoa que as tem nesse momento.
    A solução deve vir pela linha de não usar-mos antibióticos se não for imprescindível (para não seleccionar-mos tanto as resistentes), e nesse caso usa-los até ao fim, de maneira que não fique nenhuma viva (ou as mínimas possíveis), em vez de interromper o tratamento quando já morreram muitas e nos sentimos melhor (mas ainda ficaram bastantes, com boas possibilidades de vir a ser resistentes).
    De todas as maneiras este efeito é e será continuo, pela sua própria natureza. Podemos retarda-lo, não para-lo. Mas já será alguma coisa.

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