Aureus

Com este blog pretendo mostrar os últimos acontecimentos científicos, de maneira a ficarmos à par do que pôde ser feito pelos científicos neste momento, e dos últimos descobrimentos, e ao mesmo tempo oferecer curiosidades, engraçadas ou simplesmente esquisitas, do âmbito da ciência. Isto sempre numa linguagem acessível para todos, sem grandes complicações.
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18 de novembro de 2009

O hipocampo e a neurogénese: Arquivando memória


Neurogénese no hipocampo


Há pouco tempo destruiu-se um velho mito da neurociência, quando se descobriu a neurogénese em adultos (Antes pensava-se que não eram criados novos neurónios nos indivíduos adultos). Mas o descobrimento da neurogénese nos adultos deixou-nos também novas dúvidas: Para quê servem estas novas células? Como as utilizamos? 



Um estudo recente, publicado em cell , indica que os novos neurónios ajudam no processo de armazenagem das antigas memórias, transferindo-as do hipocampo para o neocórtex, fazendo assim com que passem a ser permanentes, e libertando espaço para a entrada de novas memórias no hipocampo.


O hipocampo, cujo nome provêm do parecido anatómico com o cavalo-marinho, é uma pequena zona do cérebro pela que entram as novas memórias ou lembranças no nosso cérebro. Após aproximadamente um mês, estas memórias são transferidas para o neocórtex, onde ficam armazenadas de forma permanente. 



Neogénese (novos neuronios em côr-de-rosa) no hipocampo normal, en cima. Em baixo hipocampo dum rato com neurogénese defeituosa. 


O neocórtex é uma parte do cérebro dos mamíferos (fundamentalmente a parte frontal), especialmente desenvolvida nos primatas, e muito especialmente desenvolvida no Homo sapiens. Alguns outros animais, como algumas aves e inclusive algumas tartarugas, têm estruturas cerebrais com funções relativamente parecidas (também servem para arrecadar as memórias), mesmo que diferentes estruturalmente. A eficiência do neocórtex depende da sua superfície, pelo que quantas mais circunvalações apresente melhor irá funcionar (porque terá mais superfície). E nisso, o cérebro humano supera em muito todos os outros.  


Já se sabia que quem tenha danificado (ou lhe tivesse sido removido, como foi o caso num tratamento experimental contra a epilepsia) o hipocampo, tem dificuldade em reter novas memórias, mesmo mantendo as lembranças mais antigas. Na doença de Alzheimer, por exemplo, o hipocampo é uma das primeiras zonas afectadas.


E o estudo agora realizado, fazendo experiências com ratos, demonstra que indivíduos com problemas de neurogénese (criação de novos neurónios) no hipocampo apresentam também dificuldades de retenção de novas memórias permanentes: criando-lhes novas memórias, e desactivando o hipocampo com medicamentos um mês depois, os indivíduos normais retinham as memórias, enquanto que os que tinham problemas de neurogénese demonstravam não se lembrar destas novas memórias.


Procurando indivíduos com uma taxa de neurogénese superior à normal, repetiram a experiência desactivando antes o hipocampo, e chegaram à conclusão de que efectivamente os indivíduos com formação mais rápida de novos neurónios também retinham as memórias permanentemente de maneira mais rápida.


Os autores chegaram assim à conclusão de que a neurogénese no hipocampo  limpa o mesmo das memórias recentes, transferindo-as para o armazém definitivo no neocórtex, e deixando livre o hipocampo para receber novas memórias recentes.


Em qualquer caso, alguns científicos indicam que este estudo, mesmo que claramente interessante, não necessariamente determina a função da neurogénese (nem explica como o faz, propriamente), mas acrescentam que sem dúvida abre, isso sim, um caminho para uma nova linha de investigação muito promissora.


Visto em Science 

2 comentários:

  1. Gostei muito da forma simples de exposição, clara e eficiente p quem nada conhecia do assunto,fez-se luz p maiores busca sobre o tema.Obrigada.

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  2. Gostei muito, da explicação. Havia encontrado o assunto num livro, mas estava bem resumido. Obrigada!

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